sexta-feira, 3 de julho de 2009

A MODERNIDADE EM BAUDELAIRE

1- A modernidade na composição poética

A importância de Baudelaire na tradição literária do ocidente consiste basicamente na instauração da Modernidade (haja vista o fato de que fora ele quem forjou o vocábulo Mordenité) na estrutura lírica de composição poética. Esta modernidade se vai caracterizar pela dialética de razão e paixão no nível da estrutura e do sentido da construção poemática. Isto significa dizer que se vai harmonizar em sua obra o máximo de vigor passional com o máximo de rigor racinal. Como já foi dito, essa harmonização se dá no nível estrutural (no que se diz respeito a forma que delineia o sentido ) e no nível semântico (no que diz respeito ao sentido delineado pela forma); agora, a importância dessa harmonização de duas potências consideradas estanques por toda a tradição do pensamento ocidental (razão e paixão) é que a vida em si mesma não promove a separação dos contrários pois que tudo o que se manifesta , não apenas no fazer humano, mas na vida cósmica em geral, se dá a partir dessa tensão harmônica de essências opostas.
Por exemplo, não se dá o surgimento de todas as cores sem o entrelaçamento de luz e trevas, não nasce uma nova árvore sem a morte da semente e assim por diante.
Quando Baudelaire aplica essa harmonização de contrários no fazer poético, ele está aproximando a arte literária da vida , mostrando que a ficção não é algo estanque da realidade circundante.

2- A modernidade como representação dos conflitos nas grandes cidades

A realidade que cercava Baudelaire era a de mudanças na estrutura da sociedade ocidental nos séculos XIX e XX com o evidenciamento da vida urbana e com a instauração de uma nova ordem burguesa e capitalista, que acabaram por chocar o sujeito urbano desse tempo já que essa nova ordem era constituída sem um centro fixo ou um organizador comum.
A Paris, do Segundo Império no século XIX, em que o poeta viveu, também como as outras grandes cidades ,sofreu essas transformações por meio do surgimento de uma vida urbana, da construção de grandes avenidas, mercados ,teatros etc, fazendo com que a convivência das pessoas se transferisse de suas casas para as ruas cada vez mais movimentadas da cidade e com que diversas classes sociais, como desde um aristocrata a um réles da sociedade se defrontassem num mesmo local.
A construção dessa metrópoli-labirinto além de expor os contrastes sociais, também contrastava o indivíduo com a multidão. Pois ao chegar na rua o sujeito urbano perdia sua individualidade e passaria a ser simplesmente mais um na multidão.
Neste momento, também presenciamos uma modernização no comércio que traz para o parisinense uma inovação : as galerias e suas vitrines ilumindas que ao mesmo tempo que expunham a mercadoria, fascinavam aquele que vagava pelas ruas.
O que traz à cena o flâuner, muito retratado nas obras de Baudelaire; um errante que se entrega a compulsão de sujeito urbano, que passeia prazerosamente sem destino pelas galerias e pelas ruas da metrópoli-labirinto mas, que ao mesmo tempo não perde sua natureza inumana.
Em meio a essa experiência nova, onde o sujeito poderia se defrontar com a multidão e com a velocidade das mudanças na sociedade moderna, Baudelaire viu-se obrigado a refletir e a trabalhar essas transformações que trouxeram à tona esses constrastes sociais outrora camuflados e a expor essa dualidade presente na arte e na vida , dedicando a esse tema -modernidade, vários de seus textos poéticos e ensaios.

3- A definição de modernidade para Baudelaire

Segundo o filósofo Walter Benjamim, Baudelaire é o primeiro poeta a trabalhar em sua obra a crise e os constrastes da modernidade capitalista e industrial.

Em seu ensaio "Le peintre de la vie moderna" que foi dedicado ao pintor Constantin Guys por quem Baudelaire não esconde admiração e não poupa elogios à sua arte, vemos a demonstração mais clara do conceito de modernidade em Baudelaire quando ele afirma que o artista, ou melhor, como ele recoloca , o homem do mundo, ou seja aquele que não está submetido à uma área específica , mas que se interessa e aprecia assuntos do mundo inteiro (assim ele define Guys); retira da moda atual e de seu momento histórico o que tem de poético, portanto, retira do transitório o que tem de eterno para alcançar a essência do belo.
"A modernidade é o transitório,o efêmero,o contigente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável"

4- Conclusão

Baudelaire não foi entendido por sua época sendo pouco lido e tendo alguns de seu poemas proibidos.
Talvez, porque tenha provocado na sociedade um certo horror por representar com muita maestria o choque que a modernidade capitalista e industrial causou em seu tempo.
Uniu o clássico com o moderno, denunciou por meio de uma dualidade sempre presente em seus poemas (pois para ele a modernidade está ligada à noção de conflitos) os constrastes sociais de sua cidade, aproximando a arte da vida, promovendo importantes reflexões que ecoam até os dias de hoje.


Bibliografia:
BAUDELAIRE, Charles. "O pintor da vida moderna". In: Obras Completas

Por:
Lúcia R. R. (DRE 086210714) e Taáte P. Tomaz Silva (DRE 107369090)

Um comentário:

  1. Lúcia e Taáte,

    o trabalho de vocês ficou bastante interessante, ainda que um pouquinho curto. Mas está bem escrito e as ideias estão claras e bem articuladas. A análise feita também é coerente e expressa reflexão sobre o tema da literatura na modernidade em geral e, em particular, a obra de Baudelaire. Parabéns, ficou bastante bom. Boas férias e abraços.

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