terça-feira, 30 de junho de 2009

A beleza na concepção de Baudelaire

Por Larissa Clementino B. de Oliveira & Mariana de Araujo Jaggi

A Beleza

Eu sou bela, ó mortais! como um sonho de pedra,
E meu seio, em que sempre o homem absorve a dor,
Feito é para inspirar aos poetas este amor
Mudo e eternal que na matéria medra.

Eu impero no azul, esfinge singular;
Sou coração de neve e branco cisne lento;
Porque desloca a linha, odeia o movimento,
E nem sei o que é rir, nem sei o que é chorar.

Sempre o poeta porém a esta grande atitude
Que eu pareço copiar de uma estátua distante,
Fôrça é que, dia a dia, austero o ser, me estude;

Tenho para encantar este dócil amante,
Pondo beleza em tudo, os mais puros cristais:
Meu olhar, largo olhar de clarões eternais.


Tal como afirma o verso do poema: “Tenho para encantar este dócil amante”, a beleza sempre encantou e continua a encantar artistas e poetas de várias épocas, além do fato de ela ser tão almejada pela maioria deles. Nessa beleza encantadora existem elementos, características na qual Baudelaire nos revela de uma forma clara e simples.
No poema transcrito acima podemos perceber em seus versos a fascinação que a beleza causa nos artistas, e sua busca por ela. Observemos o seguinte verso: “Eu sou bela, ó mortais como um sonho de pedra” nesse verso percebemos a beleza sendo exaltada por ela mesma, chegando a se comparar a perfeição de uma estátua grega quando ela mesma afirma: “Como um sonho de pedra”.

No verso “Feito é para inspirar aos poetas este amor”, aqui a beleza sabe o efeito que ela causa nos poetas e admite ser a inspiração deles.
Analisemos agora a segunda estrofe:

“Eu impero no azul, esfinge singular;
Sou coração de neve e branco cisne lento;
porque desloca a linha, odeio o movimento,
E nem sei o que é rir, nem sei o que é chorar.”

Como podemos ver nesses versos, a característica de misteriosa e também a característica de imortalidade, são remetidas à beleza pela beleza. A característica de misteriosa e única, caracterizada por ela mesma, se encontra no seguinte verso: “Eu impero no azul, esfinge singular”, ou seja, a beleza sempre impera assim como uma esfinge (misteriosa) e única. A idéia de imortalidade se encontra nos seguintes versos:

“Porque desloca a linha, odeio movimento,
E nem sei o que é rir, nem o que é chorar.”

A linha nos remete a idéia de algo exato, sem imperfeições, estática, pois o movimento a desalinharia e na perfeição não há desalinho. Quando ela afirma não saber rir e nem chorar, ela assume não possuir características mortais, aqui ela se afasta do mundo mortal. A beleza assume sua divindade nesses versos, ou seja, perfeita, sem características ou defeitos de mortais, logo ela é imortal. E nos últimos versos do poema ela confirma tudo isso, ao dizer:

“Tenho para encantar este dócil amante,
Pondo beleza em tudo, os mais puros cristais:
Meu olhar, largo olhar de clarões eternais.”

A Beleza, como Baudelaire afirma no decorrer de todo o poema, é a inspiração, o encantamento dos poetas, é perfeita e imortal.
O belo, a beleza, tema tão presente nas obras de Baudelaire, ele que através de suas analises sobre o tema nos revela as várias perspectivas que podemos ver, analisar, avaliar e até mesmo entender o belo.
Para Baudelaire a beleza também é histórica, ou seja, cada época tem a sua beleza particular que a torna única. Como já dizia o autor: “O passado é interessante não somente pela beleza que dele souberam extrair os artistas para os quais ele era o presente, mas igualmente como passado por seu valor histórico”. Para sentir a essência dessa beleza histórica tem que saber tirar de uma determinada época o que esta pode conter “de poético no histórico” e também tem que saber “extrair o eterno do transitório”, como Baudelaire já afirmara.

O belo, que ao mesmo tempo é eterno, invariável é também relativo, circunstancial. É eterno, pois a partir do momento em que o artista e/ou o poeta registra em sua obra uma determinada época com todas as suas características, ele torna aquele instante eterno na sua obra. O belo é transitório, porque aquelas características, aquelas modas pertenciam aquele momento da história e não necessariamente pertence ao tempo presente, a modernidade.

Essa dualidade do belo, que é ao mesmo tempo eterno e relativo, é de vital importância para a obra de arte, pois uma não existe sem a outra. Portanto, é preciso haver essa dualidade; Já afirmara Baudelaire, que essa característica do belo vale para todas as épocas e cada época apresenta suas particularidades. Essa beleza, que com sua singularidade continua e continuará a encantar poetas e artistas de todos os tempos com sua perfeição e sua imortalidade de ser.

Bibliografia:
Baudelaire, Charles. As flores do mal. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1958. p. 117Baudelaire, Charles. In obras completas- O pintor da vida moderna

Baudelaire, Charles. In obras completas- O pintor da vida moderna.


Teoria Literária III
Alunas: Larissa Clementino B. de Oliveira DRE: 108062730
Mariana de Araujo Jaggi DRE: 108062560
turma: LEB

Um comentário:

  1. Larissa e Mariana,

    vocês conseguiram ressaltar alguns pontos importantes da poética baudelaireana neste texto, que está bastante bem escrito. O resultado geral é muito bom, mas, creio, vocês poderiam ter "arrancado" mais do poema que escolheram. E nunca se esqueçam de citar o tradutor do poema, já que a tradução tem também seu lado criador e poético. Abraços e boas férias.

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