quinta-feira, 25 de junho de 2009

Uso da natureza, sob a óptica de Jean-Jacques Rousseau e Marquês de Sade


No presente trabalho abordaremos diferentes visões da representação da natureza,vista sob a óptica de Jean-Jacques Rousseau,segundo seu livro Devaneios de um caminhante solitário,quinta caminhada e pela óptica de Marquês de Sade em A filosofia na Alcova ou os preceptadores imorais no opúsulo, "Franceses,mais um esforço se quereis ser republicanos."

Para Rousseau a natureza lhe traz prazer e esta é apenas um pretexto para que o sujeito abandone e pense sobre a própria existência.O oposto ocorre com Sade para quem a há uma natureza energética que serve como justificativa para toda ilegalidade de práticas infringidas por pessoas libidinosas, devassas. Para ele, estas são práticas legais.

Ao longo do ensaio serão desenvolvidas análises sobre algumas passagens dos textos propostos,abordando ainda,o que diz respeito às práticas consideradas corretas e incorretas de acordo com a natureza em uma sociedade sob a visão desses filósofos.

Nesta análise é importante ressaltar que Rosseau, desiludido de tudo e de todos, das coisas que o cercavam, decide se refugiar para tentar buscar a felicidade particular, visto que não a tinha conseguido coletivamente. E consegue alcançá-la a partir do momento que mergulha na natureza, pois apenas com esse mergulho ele consegue esquecer tudo que lhe acontecera.


"Mas um infeliz que foi separado da sociedade
humana e que nada mais pode fazer de útil e de bom,na
terra,para os outros ou para si mesmo,pode encontrar
nesse estado,para todas as felicidades humanas,
compensações que o destino e os homens não lhes
poderiam retirar."( Rousseau,p.76-77)


Na 5ª caminhada de Os devaneios do caminhante solitário, Rousseau descreve as lembranças do curto período em que viveu, isolado dos homens, refugiado na natureza que ele próprio qualifica como selvagem e romântica:

"De todas as habitações em que morei (e tive algumas encantadoras), nenhuma me tornou tão verdadeiramente feliz e me deixou tão terna nostalgia quanto a Ilha de Saint-Pierre no centro do lago de Bienne" (ROUSSEAU,p.171)
.


A vida campestre feita de simplicidade e igualdade é a representação do "paraíso" para Rosseau e é por isso que ele decide se refugiar em Saint-Pierre, um local escondido, solitário, como se quisesse sentir sua própria existência; e além disso é preciso calma para chegar até ela. Desligando de qualquer apego, apenas com o ruído dos mares poderia mergulhar no seu próprio devaneio que está entre o sonho e a vigília, ou seja, ele passava por uma espécie de sentimento vazio, e ele tirava da natureza algo para preenchê-lo, algo para trazer paz ao seu coração.

Para Rousseau, o estado de total felicidade só é encontrado quando o coração está em paz, sem nenhuma paixão para lhe tirar a atenção; porém é preciso o auxílio dos objetos que o rodeiam. Rousseau dizia que nesse estado não deveria ter um total repouso, ou uma total agitação, mas sim um movimento uniforme e moderado, sem abalos nem intervalos. Teria de haver uma expulsão da agitação da alma do sujeito, pois se o movimento fosse desigual ou mais forte, chamaria a atenção do indivíduo para os objetos que o rodeia, e assim destruiria o encanto do devaneio. Já a agitação exterior das águas o faria desprender-se de qualquer preocupação, como que purificando sua alma.

O filósofo ficava bastante tempo apreciando este momento de total purificação, de total esvaziamento da alma, no lago de Bienne; ele se encontrava tão inebriado, tão possuído por esse estado, que se quer se dava conta da noite que estava chegando. Percebemos assim que o indivíduo, para alcançar esse estado, deve se desprender de tudo a sua volta.

Para melhor ilustrar tal estado de esvaziamento da alma, vejamos tal citação:

"De tempos em tempos,nascia em alguma fraca e curta reflexão sobre a instabilidade das coisas deste mundo do qual a superfície das águas me oferecia a imagem: mas,em breve, essas impressões leves se apagavam na uniformidade do movimento contínuo que me embalava,e que,sem nenhuma ajuda ativa de miha alma, não deixava de me fixar, a tal ponto que,chamado pela hora e pelo sinal combinado, não podia arrancar-mede lá sem esforço." (ROUSSEAU, p.75)



Podemos observar nesta citação a relação de prazer que é estabelecida entre o sujeito e a natureza. O sujeito, sem exercer nenhum trabalho, consegue sentir com prazer a própria existência quando está diante da natureza; porém, é importante ressaltar que o sujeito não desfruta de nada que é exterior a ele, apenas deixa transparecer esse estado quando se encontra em contato com a natureza.

Nesta citação, é feito o uso da preposição sem para fazer uma relação entre o puro prazer e o desinteresse pelo objeto,o sujeito não deve ter interesse na natureza,no sentido de querer usá-la em benefício próprio,mas apenas o prazer de contemplá-la, o belo é apenas o que nos agrada, o que nos causa prazer.

Também podemos notar nesta citação que no momento em que a superfície das águas oferece uma imagem a ele, a partir do momento em que o sujeito enxerga o que está no exterior dele, consequentemente, ele sai do estado de natureza e utiliza a própria natureza, atitude esta considerada por Rousseau, errada, pois, o homem não deve se apropriar de forma alguma da natureza e sim apenas contemplá-la.

Portanto, podemos concluir que só é possível chegar ao puro prazer, ao estado de plena felicidade quando não fazemos uso da natureza.

Uma outra concepção de natureza nos é fornecida pelo Marquês de Sade, aristocrata francês e escritor marcado pelo desprezo aos valores religiosos e morais.

A concepção de Sade é um tanto quanto diferente da de Rousseau no que diz respeito à natureza. Para Rousseau o sujeito sentia sua própria existência diante dela mas ao mesmo tempo ficava passivo diante da natureza, sem utilizá-la. Ela, a natureza, estava no exterior, estava nos lagos, nas plantas, nos animais.

Para Sade, a natureza é intrínseca ao indivíduo, o sujeito justifica seus atos de libertinagem como sendo bons, porque tais atos são prazerosos e tudo isto está sendo inspirado pela natureza do homem.

Sade é completamente contra a moral de sua época e pretendia, por isso, criar uma nova moral em que somente os excessos seriam permitidos, sem qualquer virtude ou religião que permeassem a ação individual, e que no fim de cada ação teria o prazer.

Aos libertinos (Prefácio, de Sade)

"Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos de seus princípios que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam os frios e tolos moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para submeter os homens aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões deliciosas: seus órgãos são os únicos que vos devem conduzir à felicidade."


Podemos ressaltar, observando o prefácio acima, que para Sade as ações dos homens deviam ser sempre direcionadas ao prazer, esquecendo-se da moral e das virtudes religiosas tradicionais, vigentes do século XVIII, que impediam os excessos.
Segundo ele, as virtudes calcadas na moral religiosa, são contra a natureza humana, impedindo-o de ser feliz; como exemplo disso, se tem o seguinte caso: Se o homem desejasse possuir uma mulher, não podia deixar de fazê-lo, se ele enfraquecesse, resistisse, ou destruísse esse desejo estaria indo contra a sua própria natureza.

Em relação à sodomia, Sade comenta que as pessoas têm direito a terem gostos diferentes, então não seria ultraje algum à natureza esse tipo de ação. E se o indivíduo tem desejo por outras partes do corpo ou a indivíduos do mesmo sexo, ele tem de respeitar sua natureza e realizar seu desejo. Assim, para provar que todas essas ações de prostituição e de sodomia eram úteis ao homem ele mostra em seu texto, exemplos de autoridades e grandes nomes, como Catulo, Horácio, Jerônimo que em suas obras escreviam a homens e a suas amantes.

No que diz respeito ao homícidio, ele afirma que ao cometer um homícidio, o homem só está deixando a natureza agir nele, é a própria natureza que o aconselha, então ele não deve sentir remorso algum, porque apenas seguiu o que sua natureza desejava.

Enfim, ele enxergava nas práticas de seus delitos uma forma de conservar sua própria natureza, ou seja, ao praticar o adultério, o incesto, o roubo e a sodomia, só estaria realizando os desejos naturais considerados próprios do indivíduo. Com isso, ele diz que todos os excessos libertinos são questões fundamentadas na natureza.

Por Carla Patrícia de Lima Araújo, DRE: 108062489
Turma: LEA
Teoria Literária III


Referências Bibliográficas:

ROUSSEAU, Jean- Jacques. "Quinta Caminhada". In:
Os devaneios do caminhante solitário. Tradução de Fúlvia Maria Luiza Moretto. Brasília: Editora da Universidade de Brasília,1986.

SADE, Marquês de. "Franceses,mais um esforço se quereis ser republicanos". In :
A filosofia na Alcova ou os preceptores imorais. Tradução de Augusto Contador Borges. São Paulo: Iluminuras,1999.

www.unicamp.br/jmarques/cursos/rousseau2001/mgrp.htm



Um comentário:

  1. Carla, seu trabalho é interessante, mas não chega a abordar, nem mesmo tentar, nenhum dos aspectos que vimos durante o período. Na sua comparação entre Rousseau e Sade, você poderia ter comentado o papel da escrita ou da arte para os dois autores, a função da literatura na relação que o filósofo ou o poeta estabelece com a natureza. Enfim, vi que você tem potencial, tem pensamento próprio e mesmo coragem para abordar um autor tão controverso quanto Sade, escolhendo, inclusive, uma de suas obras mais polêmicas. De todo modo, pela ousadia e pela originalidade, aceito o trabalho, que está bastante bom (ainda que possa ser aprofundado, se você o quiser). Outra coisa: havia vários problemas de redação, sobretudo no uso das vírgulas. Minha sugestão é que você procure melhorar o uso da pontuação, pois isso pode prejudicá-la futuramente. Eu tomei a liberdade de corrigir os casos mais graves, para facilitar a compreensão do texto (veja se não deturpei alguma frase sem querer). As notas seguem após a leitura de todos os trabalhos. Abraços e boas férias.

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