O conto O Espelho, de Guimarães Rosa, detalha a experiência de um eu-lírico que decide, após olhar-se no espelho e ver uma imagem repulsiva, aprofundar-se no seu eu, se aventurar numa viagem de conhecimento de si mesmo para encontrar o transcendente e conhecer-se de maneira profunda – análise essa que se dá pouco a pouco; o personagem observa os fatos da trajetória e preza seu caminho nessa constante busca e reconhecimento de um auto-conhecimento. O tema da identidade é tratado com a metáfora de se reconhecer e não se reconhecer através de um espelho.
O autor utiliza uma narrativa em primeira pessoa em contato direto com o leitor como um diálogo constante, em que este é chamado a adentrar no mundo paralelo, na viagem insólita a qual é chamado pelo viajante. A intenção não é a de alardear fatos ou produzir efeitos encontrados nos textos de ficção, mas simplesmente narrar a experiência que questiona a lógica e o sentido de existir.
No início do conto são expostas as -duvidosas faces que um espelho pode proporcionar, explicando o quão dúbio e infiel este pode ser e deixando claro o fato de que acreditar na imagem que se vê é de total ignorância de novas experiências – há espelhos que deformam, há aqueles que melhoram a imagem e aqueles que, raramente, parecem realmente mostrar o que está do outro lado.
Então quando saber se estão sendo sinceros? Como saber quem somos, de verdade, se cada espelho mostra uma face diferente? Trata-se de detalhes pequenos que fazem a diferença num contexto mais amplo. O autor dá a possibilidade do leitor questionar-se sobre a veracidade dos mistérios da mudança a partir desse objeto exterior e interior. Dá ainda o exemplo das fotografias, mas logo depois retruca colocando em evidência que esse é um argumento que até mesmo ajuda a entender a multiplicidade dos espelhos, visto que os retratos são, entre si, muito diferentes.
Neste jogo de convencer o leitor de que a sua tese é correta, que os espelhos têm o poder de enganar, o autor diz que se deve duvidar dos olhos porque eles são a porta do engano. Os olhos viciam-se com os defeitos e os entendem como natural. A cada vez que se olham, os olhos acostumam-se mais com a imperfeição da imagem que vêem. O eu-lírico usa o exemplo de Narciso, quando diz que Tirésias havia predito àquele que viveria apenas enquanto não visse a si mesmo. Diz ainda que o rosto é um movimento deceptivo constante e que se compõe das diversas máscaras sobrepostas que formam o disfarce do rosto.
Para entender o motivo de seus questionamentos, o emissor tenta comparar suas idéias com a de povos do interior, por exemplo, povos do sertão. Estes diziam, por crendice ou lenda, que olhar-se as horas da morte significava ver algo no espelho, alguma outra medonha visão, se não apenas a do observador. Questiona também se o seu medo é genético, se ele não seria, então, “a revivescência de impressões atávicas". Ou se os primitivos tinham alguma influência sobre ele, já que estes tinham receio em ver a imagem refletida, como se o reflexo fosse a própria alma sendo encarada.
Embora tudo pareça meio imaginativo, o eu-lírico não é um nefelibata. Pelo contrário, é racional, mantém-se sempre aliado as idéias reais, "pisa o chão a pé e patas". "Satisfazer-me com fantásticas não-explicações? — jamais. Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem o Monstro?" Nessa frase, a visão amedrontadora seria a experiência inicial, quando estava em um banheiro público e viu uma imagem repulsiva, horrenda, em dois espelhos que faziam jogo entre si. E a reflexão era ele mesmo, uma imagem que assustava, o seu próprio protótipo de imagem.
Desde então, começou a intensa busca do "eu por trás de mim" nas imagens que se refletiam. A intenção do emissor era parar de olhar com afeto para o que via e começar a buscar um modelo subjetivo. Era necessário conseguir fazer transparecer o disfarce, conhecer a verdadeira forma. Pensou em algumas táticas para obter esse eu verdadeiro: teria de tirar todas as características físicas do rosto para adentrar no seu eu. Começou extraindo a idéia animal da face, logo as marcas hereditárias, os efeitos de paixões, pressões psicológicas e gradativamente tudo o que pudesse dissimular a sua figura e esconder em máscaras o que pretendia encontrar.
Conseguia realizar o feito conforme excluía os elementos que desfiguravam, perto de encontrar sua essência.
"Minha figura reproduzia-se-me lacunar, com atenuadas, quase apagadas de todo, aquelas partes excrescentes."
Após anos de tentativa, o eu-lírico se sente mal, tendo distúrbios físicos, e suspende a experiência: deixa de olhar-se ao espelho por tempos a fio. Abandonou a idéia de busca incessante da identidade através da insólita pesquisa com o qual se entretinha por tanto tempo. Um certo dia, quando decide olhar-se novamente, não se viu. Não tinha formas, contornos ou um rosto visível. Foi sendo, então, poros até a total desfigura, a anulação da imagem. Até mesmo os olhos, que são imutáveis frente ao espelho, não eram mais vistos.
"Eu não tinha formas, rosto? Apalpei-me, em muito. Mas, o invisto. O ficto. O sem evidência física. Eu era — o transparente contemplador?"
Passaram-se tempos e sua figura não voltava, continuava uma imagem sem forma a encarar-lhe no espelho, o nada. Depois, enfrentou-se de novo. Foi vendo-se devagar, iluminando-se. Era um esboço mal feito de rosto, um quase rosto de menino.
Permanecer com feições infantis é praticamente ser capaz de originar-se de si por si mesmo constante e incessantemente. Como se ele tivesse encontrado a proto-imagem, uma única essência a qual poderia modificar: a essência infantil e inocente de uma criança. Uma mudança que vai do resultado da destruição à possibilidade de uma construção, de continuar as imagens que teve, ou uma nova imagem ingênua, sem máscaras, construída a partir da desconstrução de tudo o que o personagem havia sido até então.
O objeto de análise do conto não é o acontecimento, a horrenda visão no lavatório público, muito menos a experiência em si, mas o espelho. O tema do espelho, como imitação da vida, esteve sempre relacionado com o auto-conhecimento. O objeto é, antes de tudo, uma forma do nosso próprio olhar cruzar consigo próprio, voltando-se para si mesmo. Ou seja, cada ser possui um duplo que o contempla no mesmo momento em que é contemplado.
Este processo enfrentado pelo sujeito é essencial para a descoberta da relação eu/mundo, eu/própria identidade e os problemas que assolam grande parte das pessoas no geral. O verdadeiro eu só poderia ser encontrado através e diante do espelho pois é nele que conhecemos a nós mesmos e torna-se possível o estudo da relação imagem e semelhança.
O autor, no final do conto, ainda pergunta ao receptor se ele nunca compreenderá o fato que ocorreu, como o início do projeto de auto-conhecimento no qual ele este se enveredou, o tempo que passou sem olhar os espelhos e, por fim, a imagem infantil e desprovida de marcas de idade, de expressões que identificariam pedaços da vida e que não são mais que um simulacro de si mesmo. Só entenderia e maior essência da transcendência quem também tivesse experimentado a arte de se conhecer.
Guimarães com sua inovação na linguagem e ao mesmo tempo com sua erudição, incita o pensamento de chegarmos ou não a existir, questionando também o fato de crermos naquilo que parecemos ser e na possibilidade de tudo não passar de máscaras. Existir, nesse inteligente conto, significa nada mais que um complicado e doloroso processo de auto-plasmação da alma, uma experiência séria que consiste numa constante retirada de tudo o que limita o crescer do homem em sua jornada, levando-o, enfim, a necessidade de se achar realmente nesse objeto enganador e cruel a que chamamos de espelho.
Aline de Macedo Manhães - LEA
O autor utiliza uma narrativa em primeira pessoa em contato direto com o leitor como um diálogo constante, em que este é chamado a adentrar no mundo paralelo, na viagem insólita a qual é chamado pelo viajante. A intenção não é a de alardear fatos ou produzir efeitos encontrados nos textos de ficção, mas simplesmente narrar a experiência que questiona a lógica e o sentido de existir.
No início do conto são expostas as -duvidosas faces que um espelho pode proporcionar, explicando o quão dúbio e infiel este pode ser e deixando claro o fato de que acreditar na imagem que se vê é de total ignorância de novas experiências – há espelhos que deformam, há aqueles que melhoram a imagem e aqueles que, raramente, parecem realmente mostrar o que está do outro lado.
Então quando saber se estão sendo sinceros? Como saber quem somos, de verdade, se cada espelho mostra uma face diferente? Trata-se de detalhes pequenos que fazem a diferença num contexto mais amplo. O autor dá a possibilidade do leitor questionar-se sobre a veracidade dos mistérios da mudança a partir desse objeto exterior e interior. Dá ainda o exemplo das fotografias, mas logo depois retruca colocando em evidência que esse é um argumento que até mesmo ajuda a entender a multiplicidade dos espelhos, visto que os retratos são, entre si, muito diferentes.
Neste jogo de convencer o leitor de que a sua tese é correta, que os espelhos têm o poder de enganar, o autor diz que se deve duvidar dos olhos porque eles são a porta do engano. Os olhos viciam-se com os defeitos e os entendem como natural. A cada vez que se olham, os olhos acostumam-se mais com a imperfeição da imagem que vêem. O eu-lírico usa o exemplo de Narciso, quando diz que Tirésias havia predito àquele que viveria apenas enquanto não visse a si mesmo. Diz ainda que o rosto é um movimento deceptivo constante e que se compõe das diversas máscaras sobrepostas que formam o disfarce do rosto.
Para entender o motivo de seus questionamentos, o emissor tenta comparar suas idéias com a de povos do interior, por exemplo, povos do sertão. Estes diziam, por crendice ou lenda, que olhar-se as horas da morte significava ver algo no espelho, alguma outra medonha visão, se não apenas a do observador. Questiona também se o seu medo é genético, se ele não seria, então, “a revivescência de impressões atávicas". Ou se os primitivos tinham alguma influência sobre ele, já que estes tinham receio em ver a imagem refletida, como se o reflexo fosse a própria alma sendo encarada.
Embora tudo pareça meio imaginativo, o eu-lírico não é um nefelibata. Pelo contrário, é racional, mantém-se sempre aliado as idéias reais, "pisa o chão a pé e patas". "Satisfazer-me com fantásticas não-explicações? — jamais. Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem o Monstro?" Nessa frase, a visão amedrontadora seria a experiência inicial, quando estava em um banheiro público e viu uma imagem repulsiva, horrenda, em dois espelhos que faziam jogo entre si. E a reflexão era ele mesmo, uma imagem que assustava, o seu próprio protótipo de imagem.
Desde então, começou a intensa busca do "eu por trás de mim" nas imagens que se refletiam. A intenção do emissor era parar de olhar com afeto para o que via e começar a buscar um modelo subjetivo. Era necessário conseguir fazer transparecer o disfarce, conhecer a verdadeira forma. Pensou em algumas táticas para obter esse eu verdadeiro: teria de tirar todas as características físicas do rosto para adentrar no seu eu. Começou extraindo a idéia animal da face, logo as marcas hereditárias, os efeitos de paixões, pressões psicológicas e gradativamente tudo o que pudesse dissimular a sua figura e esconder em máscaras o que pretendia encontrar.
Conseguia realizar o feito conforme excluía os elementos que desfiguravam, perto de encontrar sua essência.
"Minha figura reproduzia-se-me lacunar, com atenuadas, quase apagadas de todo, aquelas partes excrescentes."
Após anos de tentativa, o eu-lírico se sente mal, tendo distúrbios físicos, e suspende a experiência: deixa de olhar-se ao espelho por tempos a fio. Abandonou a idéia de busca incessante da identidade através da insólita pesquisa com o qual se entretinha por tanto tempo. Um certo dia, quando decide olhar-se novamente, não se viu. Não tinha formas, contornos ou um rosto visível. Foi sendo, então, poros até a total desfigura, a anulação da imagem. Até mesmo os olhos, que são imutáveis frente ao espelho, não eram mais vistos.
"Eu não tinha formas, rosto? Apalpei-me, em muito. Mas, o invisto. O ficto. O sem evidência física. Eu era — o transparente contemplador?"
Passaram-se tempos e sua figura não voltava, continuava uma imagem sem forma a encarar-lhe no espelho, o nada. Depois, enfrentou-se de novo. Foi vendo-se devagar, iluminando-se. Era um esboço mal feito de rosto, um quase rosto de menino.
Permanecer com feições infantis é praticamente ser capaz de originar-se de si por si mesmo constante e incessantemente. Como se ele tivesse encontrado a proto-imagem, uma única essência a qual poderia modificar: a essência infantil e inocente de uma criança. Uma mudança que vai do resultado da destruição à possibilidade de uma construção, de continuar as imagens que teve, ou uma nova imagem ingênua, sem máscaras, construída a partir da desconstrução de tudo o que o personagem havia sido até então.
O objeto de análise do conto não é o acontecimento, a horrenda visão no lavatório público, muito menos a experiência em si, mas o espelho. O tema do espelho, como imitação da vida, esteve sempre relacionado com o auto-conhecimento. O objeto é, antes de tudo, uma forma do nosso próprio olhar cruzar consigo próprio, voltando-se para si mesmo. Ou seja, cada ser possui um duplo que o contempla no mesmo momento em que é contemplado.
Este processo enfrentado pelo sujeito é essencial para a descoberta da relação eu/mundo, eu/própria identidade e os problemas que assolam grande parte das pessoas no geral. O verdadeiro eu só poderia ser encontrado através e diante do espelho pois é nele que conhecemos a nós mesmos e torna-se possível o estudo da relação imagem e semelhança.
O autor, no final do conto, ainda pergunta ao receptor se ele nunca compreenderá o fato que ocorreu, como o início do projeto de auto-conhecimento no qual ele este se enveredou, o tempo que passou sem olhar os espelhos e, por fim, a imagem infantil e desprovida de marcas de idade, de expressões que identificariam pedaços da vida e que não são mais que um simulacro de si mesmo. Só entenderia e maior essência da transcendência quem também tivesse experimentado a arte de se conhecer.
Guimarães com sua inovação na linguagem e ao mesmo tempo com sua erudição, incita o pensamento de chegarmos ou não a existir, questionando também o fato de crermos naquilo que parecemos ser e na possibilidade de tudo não passar de máscaras. Existir, nesse inteligente conto, significa nada mais que um complicado e doloroso processo de auto-plasmação da alma, uma experiência séria que consiste numa constante retirada de tudo o que limita o crescer do homem em sua jornada, levando-o, enfim, a necessidade de se achar realmente nesse objeto enganador e cruel a que chamamos de espelho.
Aline de Macedo Manhães - LEA
Aline, vi que você retirou várias frases de seu texto de algumas páginas da internet, me especial dessas duas aqui:
ResponderExcluir* http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/o/o_espelho_conto
* http://www.riototal.com.br/coojornal/academicos103.htm
Notei também que você mudou várias frases, trocou uma palavria aqui outra ali.
Mas não consegui estabelecer que você copiou todo o texto. Assim, vou considerar que boa parte do texto é seu e que você de fato refletiu sobre o que está escrito aqui.
É uma boa análise do conto de Rosa, porém não chega a haver qualquer articulação com os temas vistos durante o período.
Tudo somado, a falta das indicações de onde foram inseridas frases que não são suas, aliado à falta de referência ao tema do curso, prejudica um pouco sua nota, que deverá ficar em torno de 6,5.
Boas férias e um abraço.
PS. nunca deixe de assinalar com notas as frases que não são de sua autoria, isso pode prejudicá-la mais adiante.