terça-feira, 30 de junho de 2009

O papel do leitor.

Depois da literatura, do autor e do mundo, o elemento literário a ser examinado com maior urgência é o leitor.
Segundo M.H. Abrams,crítico do romantismo, a comunicação literária tem o seguinte modelo:






A abordagem objetiva, ou formal, da literatura se interessa pela obra; a abordagem expressiva, pelo artista; a abordagem mimética, pelo mundo; e a abordagem pragmática, enfim, pelo público, pela audiência, pelos leitores.

A crítica impressionista, segundo Compagnon, leva em consideração as impressões, experiências e reações que o autor tem do texto. Ao contrário da crítica científica e histórica, que busca a objetividade do leitor no tratamento da obra.

Mallarmé afirmava que o livro, a obra, cercados por um ritual místico, existem por si mesmos, desgarrados ao mesmo tempo de seu autor e de seu leitor, em sua pureza de objetos autônomos, necessários e essenciais. Do mesmo modo que a escritura da obra moderna não pretende ser expressiva, sua leitura não reivindica identificação por parte de ninguém.

O historicismo e o formalismo concordaram durante muito tempo em banir o leitor. Eles definiam a obra como uma unidade orgânica auto-suficiente.

Para a teoria literária, nascida do estruturalismo e marcada pela vontade de descrever o funcionamento neutro do texto, o leitor empírico foi igualmente um intruso. O leitor é, então, uma função do texto, como o que Riffatterre denominava o arquileitor, leitor onisciente ao qual nenhum leitor real poderia identificar-se, em virtude de suas faculdades interpretativas limitadas. A leitura real é negligenciada em proveito de uma teoria da literatura, isto é, da definição de um leitor competente ou ideal, o leitor que pede o texto e que se curva à expectativa do texto.

A leitura tem a ver com empatia, projeção, identificação. O leitor confirma seus próprios pensamentos. O leitor é, quando lê, o próprio leitor de si mesmo. Ele não pode compreender um livro se não se compreende ele próprio graças a esse livro.

Barthes denomina a hermenêutica como um conjunto de enigmas que compete ao leitor desvendar. Ele persiste em abordar a leitura pelo lado do texto, concebido como um programa ao qual o leitor é submetido. O processo hermenêutico é constituído por uma unidade triática: compreensão estética (expressão imediata da forma), interpretação (refletir, tentar extrair significados) e aplicação (momento histórico – momento em que você vai reconstruir o horizonte histórico da qual o próprio poema foi construído);

Muitas questões são levantadas a respeito da leitura, mas todas elas remetem ao problema crucial do jogo da liberdade e da imposição.
Nenhuma leitura é ideal, toda leitura é empírica, condicionada a cada ser individual.

Em todo caso, as normas e os valores do leitor são modificados pela experiência da leitura. Nunca entramos em um texto com uma leitura só, antes já lemos vários outros que nos fazem criar uma expectativa do texto. Nossa leitura é limitada por aquilo que já lemos. A nossa experiência condiciona a leitura. Ao mesmo tempo que temos a liberdade de sentido ao texto, somos limitados por nossa experiência.

O objeto literário autêntico é a própria interação do texto com o leitor. No momento em que estamos interagindo com o texto é que existe a literatura.
Para Ingarden a leitura caminha ao mesmo tempo para frente, recolhendo novos indícios, e para atrás, reinterpretando todos os índices arquivados até então.

O texto é indeterminado. Em conseqüência disso, cada vez mais o leitor tem que dar de si próprio para completar o texto. O texto só é, considerado, texto quando é lido. E essa leitura não se faz instantaneamente (como pensam os estruturalistas), mas depende do processo de temporalidade,que envolve expectativas. Iser pensando no romance moderno mais que na poesia , relaciona o valor da experiência estética com as mudanças que ela acarreta nos pressupostos do leitor sobre a realidade. Quanto mais o texto tem a capacidade de nos desfamiliarizar do mundo mais literário ele é.

Horizonte de expectativa (Jauss) ou Repertório (Iser) é o conjunto de convenções que constituem a competência de um leitor num dado momento;sistema de normas que define uma geração histórica. Tanto o leitor quanto o texto possuem um repertório.

O gênero funciona como um esquema de recepção, uma competência do leitor, confirmada e/ou contestada por todo texto novo num processo dinâmico. O gênero é antes de tudo uma expectativa.
Na esteira de Booth, Fish começara por atacar o texto como objeto autônomo, espacial e formal, quando na realidade ele só existe no interior de uma experiência temporal ( a leitura).Ele acabou por reivindicar para a leitura o direito a uma subjetividade e a uma contingência totais.

Texto e leitor são prisioneiros da comunidade interpretativa ( leitores) à qual pertencem, a menos que o fato de chamá-los “prisioneiros” lhes confira ainda mais identidade. Nas comunidades, o formalismo é, pois, anulado, da mesma forma que a teoria da recepção como projeto alternativo: não existe mais dilema entre partidários do texto e defensores do leitor , já que essas duas noções não são percebidas como concorrentes e são relativamente independentes.

Na realidade, o primado do leitor levanta tantos problemas quanto, anteriormente, o do autor e do texto, e o leva à sua perda. Parece impossível à teoria preservar o equilíbrio entre os elementos da literatura. A experiência da leitura, como toda experiência humana, é fatalmente uma experiência dual, ambígua, dividida: entre compreender e amar, entre a filologia e a alegoria, entre a liberdade e a imposição, entre a atenção ao outro e a preocupação consigo mesmo.

Fonte de consulta:
COMPAGNON, Antonie. O demônio da teoria. Belo Horizonte: UFMG, 2003
Alunas:
Marta S. P. da Silva DRE: 107364406
Vanessa C. R. da Mata.DRE:107364333
Teolit IV turma LEL

Um comentário:

  1. Martha e Vanessa, você fizeram um resumo do texto do Compagnon. O texto ficou um tanto engessado, sem cor própria, sem estilo, mas todas as ideias estão aí... Boas férias para vocês, breve envio as notas por email.

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