terça-feira, 30 de junho de 2009

Sobre o capítulo "O Leitor", de Antoine Compagnon

Por Aparecido de J. Silva

Antoine de Compagnon faz uma abordagem dos principais literatos do século XIX e XX, os quais em sua grande maioria ignorava o leitor. Para Compagnon, a corrente que mais excluía o leitor foi "New critics" de americanos de entre guerras. Essa corrente defendia uma leitura analítica do texto; segundo o autor, ela foi a corrente que mais se aproximava de Mallarmé, que argumentava que a obra não precisa do leitor e nem do autor, ela existe por si mesma: "um poema não deve significar, mas ser".

Percebe-se em Mallarmé uma preocupação com a estrutura e com a objetividade do texto, ou seja, a obra atingir um fim, cabe ao leitor apenas acompanhar o raciocínio e ser conduzido. O leitor não podia sair do texto, a leitura devia ser fechada, a interpretação deveria ser apenas com base na obra ou seja em si mesma. Richards, um filosofo da New Criticis, após fazer pesquisas com seus alunos sobre leituras de poemas, chegou a conclusão de que, diferentemente da argumentação de outros autores, a educação era o problema principal da má leitura e da má compreensão das obras; o problema, é que os leitores não estavam preparados para uma leitura empírica e que esse problema precisava ser corrigido.

O autor fala um pouco de três correntes, estruturalista, a qual buscava entender o objeto de estudo como um todo, em uma relação sistêmica e funcional, a corrente formalista, colocava todo o peso nos livro nos códigos, argumentando que todo leitor é capaz de decifrá-los e os positivistas, que se desejava científico com métodos de leituras, essas correntes eram seguidas por grandes nomes da teria literária. A teoria literária, não obstante, no início deixou o seu principal parceiro de lado, ou seja o leitor, isso porque ela foi fundada pela corrente estruturalista a qual preocupava-se com as formas, com as estruturas e menos com o leitor.

O leitor foi por muito tempo ignorado pelos literatos. Proust, (em O tempo redescoberto), defende que o leitor deve "aplicar o que ele lê à sua própria situação, por exemplo, a seus amores, e o escritor não deve se ofender se o travesti der às suas heroínas um rosto masculino". Neste trecho percebe-se uma preocupação para com leitor, a sua imaginação não pode ser limitada ao texto. O leitor deve ser livre para criar e recriar a parir da leitura de um livro. A liberdade mesmo que vigiada pelo autor deve ser levada em consideração. Proust diz que ao recriar uma obra, o autor leva em conta aquilo que está interiorizado dento de si mesmo — quem irá dar vida ao texto é o leitor. É preciso levar em conta que sem o leitor não existe a obra de fato, ou seja para que a obra se concretize ela precisa ser lida, interpretada e principalmente confrontada com outras leituras.

Na recepção e influência é desenvolvida a idéia de que, quando lidas, as obras levam o leitor a criar e recriar, pois o leitor funciona também como literato. Porém, isso só é possível dando a ele essa liberdade. A preocupação com o leitor, certamente, é oriunda da fenomenologia, que via no leitor uma peça principal desse ciclo, autor, literatura, leitura e leitor.

"Para Proust, não há leitura inocente, ou transparente, o leitor vai para o texto com suas próprias normas e valores". Nessa passagem fica claro o pensamento de Proust em relação ao tema, compartilhada por Compagnon.

Outro grande pensador citado no texto é Ingarden, que também compartilha do pensamento de Proust. Iser contrapõem às idéias de Proust quando retoma a fenomenologia de Sartre, para explicar o papel do leitor implícito. Esse leitor é real e está ligado a leitura textual, ele irá criar em sua mente as personagens, o momento histórico que foi escrito à obra. O leitor tem papel fundamental no processo final de um texto, porém, segundo Iser, mesmo o leitor mais atento não conseguirá entender a obra como um todo, isso se deve a grande dimensão que a teoria literária pode alcançar, já que de alguma forma o texto continua ligado ao autor.

Será que pode criar uma obra pensando em um tipo de leitor específico? Pode-se escrever um livro tentando enquadrar o leitor? A liberdade criativa de cada indivíduo pode ser limitada ao texto? Não, a leitura é aberta, é livre, cada leitor levará consigo suas expectativas, suas experiências e também o seu contexto social. O autor pode tentar direcionar a leitura, mas não conseguirá enquadrar o leitor, pois por mais ingênuo que seja o leitor, ele sempre levará consigo leituras anteriores e conhecimentos adquiridos. Embora o ato de ler seja individual, a leitura deve ser compartilhada, enfim, ela deve ser coletiva.


BIBLIOGRAFIA

COMPAGNON, Antoine. O Demônio da Teoria Literária , Capítulo IV. Belo Horizonte: UFMG, 2003

Um comentário:

  1. Aparecido, você soube destacar aspectos importantes do texto abordado. Acho que ficou um pouco apressado e, consequentemente, confuso, sobretudo no final, mas o resultado geral foi bom, mostra que vopcê refletiu sobre o papel do leitor no processo literário como um todo. Abraços e boas férias.

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