sábado, 20 de junho de 2009

A visão da mulher por ontem, por hoje e por Baudelaire


"(...)de quem derivam os prazeres mais excitantes e as dores mais fecundantes; a mulher, numa palavra, não é somente (...) a fêmea do homem."

Certamente esse comentário seria incendiado por feministas, desde as mais fervorosas até as mais acanhadas. No século em que vivemos, a mulher não pode mais ser vista como a simples fêmea do homem. Considerar em algum momento que a mulher não é um ser pensante, independente, livre para escolher o curso de sua própria vida é um dito "machismo", pensamento de algum "homem dominador" que ainda vê a mulher como objeto. Ao longo dos tempos, a mulher vem conquistando passo a passo seu papel autônomo na sociedade, lutando pela igualdade com os homens e, numa visão radicalmente feminista, querendo provar cada vez mais, que a mulher não depende mais do homem.

A mulher sempre foi considerada um ser inferior quando comparada ao homem. Serviria apenas para reprodução -a progenitora dos descendentes da família-, cuidar da casa e da educação das crianças -preparar as meninas para serem boa esposas como elas- e para satisfazer os desesjos sexuais do homem. Não podiam ter opinião sobre nada, não tinham de ter nenhuma responsabilidade que não fossem as "do lar" e não precisavam pensar. Seu desenvolvimento intelectual era desnecessário, já que assuntos consideráveis eram tratados entre homens.

A partir de um dado momento, a mulher passou a ser fonte de inspiração de poetas, passou a ser o centro de paixões avassaladoras, passou a ser peça admirada por observadores encantados com seus traços, beleza, encantamento. Quase como uma obra de arte, a mulher era venerada, admirada, até endeusada e aí então, pelo menos no campo superficial deixara de ser apenas a fêmea do homem. Já valorizada por sua beleza, pelo poder de deixar os homens enfeitiçados, inebriados por seu poder encantador e apaixonante, a mulher, ainda que tão elogiada e tão engrandecida, era ainda apenas vista como objeto sexual. Seus pensamentos não eram importantes, seus desejos não eram notáveis e seu único objetivo era tornar-se cada vez mais formosa para que pudesse continuar a ser venerada. A arte de seduzir era seu melhor dom; a meticulosidade com que cuidava de seu corpo, suas vestes, sua maquiagem eram sua maior habilidade. "É uma espécie de ídolo, estúpido talvez, mas deslumbrante, enfeitiçador, que matém os destinos e as vontades suspensas a seus olhares" Ídolo estúpido, mas ao menos ídolo. Seu desenvolvimento intelectual não era incentivado -"(...)o ser de que falamos só é incompreensível por nada ter a comunicar, talvez"- e talvez, nem desejado por ela própria. Se já era um ídolo, provavelmente já era suficiente. Ser deslumbrante, enfeitiçar era o seu papel -"dourar para ser dourada". Não precisava ter direitos ou participar do mundo como mebro ativo.
"A mulher é, sem dúvida, uma luz, um olhar, um convite à felicidade, às vezes uma palavra; mas ela é soretudo uma harmonia geral, não somente no seu porte e no movimento dos seus membros, mas também nas musselinas, nas gazes, nas amplas e reverberantes nuvens de tecidos com que se envolve (...)"
A mulher ideal era uma espécie de conjunto, formada também por sua beleza "natural", mas principalmete "composta", "montada" por uma série de acessórios que dão melhor formato à sua excelência estética e que se tranformam num todo indivisível, onde esses acessórios são parte inseparável do ser belo. Os vestidos imponentes, com suas rendas, seu volume, seu corte, sua delicadeza nos detalhes, assim como suas jóias, ornando uma pele alva e macia, frágil e fina e um rosto maquiado, uniforme e inpirando vitalidade e capricho. Além do indumentário, as maneiras e o porte, treinados ao longo de toda a vida. Desde muito pequnina a menina é exercitada a se portar como uma dama. Aprende desde nova a ter as características que são admiradas pelos homens, a se vestir bem, a se cuidar para agradar ao seu futuro marido.
Diríamos que todos esses pensamentos são machistas e que só se encontram nos tempos passados, mas não podemos distanciá-los demais dos tempos atuais.
Ainda hoje a mulher é vista como objeto, cada vez mais vulgarizado, porém hoje, por si próprias. Ainda hoje, algumas mulheres são criadas para serem boas esposas e se manterem sempre belas com o único intuito de agradar ao homem que ama. Algumas exploram a própria sensualidade (ou sexualidade?) para cnseguir vantagens. Muita coisa está diferente. As mulheres já podem trabalhar, serem idenpendentes, escolherem com quem desejam se casar e até escolherem se querem ou não casar-se. Não precisam mais da figura masculina para quase nada, criam filhos sozinhas, comandam negócios próprios, desenvolvem-se intelectualmente, tem poder de voto e de governar. Seus direitos são praticamente iguais aos dos homens. As conquistas relacionadas à ascensão da mulher na sociedade são extraoridnárias e ainda há o que melhorar. Ao mesmo tempo, muita coisa está igual. Muitas mulheres são oprimidas, violentadas, rebaixadas por não terem ainda conseguido seu espaço. Há ainda as que se consideram inferiores e aceitam levar uma vida de humilhação e penas. Há também, mulheres que são escravas do padrão de beleza de sua cultura. São capazes de prejudicar sua saúde e por em risco a sua vida para ter o corpo que considera ideal para ser atraente. Toda a liberdade e toda a valorização da mulher como ser humano equivalente ao homem às vezes não é aproveitada pela própria mulher, que ainda se trata de forma subordinada aos caprichos e vontades masculinas.
Baudelaire foi um dos primeiros a trabalhar com a exaltação da mulher. Enxergou "um ser para quem e por meio de quem se fazem e se desfazem fortunas, para quem e sobretudo devido a quem os artistas e os poetas compõem suas jóias mais delicadas; de quem derivam os prazeres mais excitantes e as dores mais profundas". Admirou e poetizou essa "divindade que preside todas as concepções do cérebro masculino" num período em que a mulher não era tão valorizada como ser amado e nem o centro das obras literárias. Para ele, a mulher é objeto de admiração e curiosidade mais viva que o "quadro da vida possa oferecer ao contemplador".
O poeta que definia a mulher como uma "reverbação de todos os encantos da natureza condensados num único ser" convidava aos que queriam decifrar o ser feminino a darem atenção a todos os artifícios utilizados pela mulher para realçar sua beleza. Diz que a simples natureza nada tem de belo, a natureza é a tradução do selvagem, e que as virtudes são artificiais, precisaram ser ensinadas para que se convertessem as atrocidades cometidas pelo homem em sua natureza primitiva. Daí então, a maquiagem e a moda viriam para modificar o natural e torná-lo belo.
"A mulher está perfeitamente em seu direito e cumpre até uma espécie de dever esforçando-se em parecer mágica e sobrenatural. É preciso que desperte e que fascine". Baudelaire defendia a vaidade, a "produção" da mulher, se compondo, usando os artifícios necessários para tornar-se bonita: jóias, adereços, indumentária. Elevava a maquiagem e a moda. Nunca como coisas frívolas, sempre necessárias.
Ainda que de forma superficial e até sexual, a visão de Baudelaire sobre a mulher foi marcante para a sua época e se transporta aos dias de hoje. A beleza, a graça, o uso da maquiagem e a importância à moda foram e são importantes através dos tempos. A mulher é um ser belo, admirado, fascinante, alvo dos esforços dos homens e misterioso. Por mais que não se queira, ainda é muito de "fêmea do homem" (já que mesmo que inconscientemente, procura embelezar-se para o sexo oposto) mas que, diferente do homem sofreu metamorfoses significantes ao longo da história do ser humano. Certamente por muitos séculos e gerações, apesar das mudanças que ainda estão para ocorrer, a mulher continuará sendo esse ídolo moldurado para encantar e enfeitiçar.

Aluna: Carolina Almeida dos Santos

Dre: 108062188

Bibliografia: BAUDELAIRE, C. O pintor da vida moderna em Obras Estéticas, filosofia da imaginação criadora. Petrópolis: Ed. Vozes, 1993.

Um comentário:

  1. Carolina, sua análise do feminino no texto de Baudelaire ficou um pouco superficial, não em si pelo conteúdo de suas opiniões, mas pela ausência de outras leituras e análises. Você poderia ter pesquisado um pouco sobre a situação da mulher na história e na literatura, isso tornaria sua análise mais aprofundada. Além disso, creio que a questão da literatura ficou um pouco de lado. De todo modo, foi um texto honesto, que mostra que você leu e refletiu sobre o tema. A nota será enviada por email ao fim da leitura dos trabalhos. Abraços e boas férias.

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