domingo, 28 de junho de 2009

Tabibito (Miyazawa Kenji)

ame no inada no naka wo yuku mono
umibouzubayashi no hou e isogu mono
kumo to yama to no inki no naka e aruku mono
motto kappa wo shikkari shimero


TRADUÇÃO

Viajante

Aquele que caminha por entre os arrozais no meio da chuva
Aquele que se apressa em direção ao bosque de umibouzu*
Aquele que anda por entre a melancolia da montanha e nuvens
Fechem bem suas capas de chuva.


_________________________
*espécie de monstro que assombra viajantes marinhos

ANÁLISE

As histórias de Miyazawa são colocadas de forma a parecer irem ao encontro de todo universo, mundo repleto de pessoas, plantas, fenômenos naturais. Essa associação livre que ele faz entre os elementos e coisas vivas que compõem o mundo é uma das características mais marcantes e predominantes em seu trabalho. Em “Viajante”, o uso da palavra "MONO" (aquele) causa um efeito tanto o de persuasão como também o de realce, um recurso muito expressivo que em português se chama epístrofe (repetição de palavras ao final de frases e/ou versos).

Essa posição no final pode parecer, intuitivamente, estabelecida de propósito e pode-se verificar que o é. Estas repetições no final dos três versos denotam uma valorização "daquele" "ou de algo" que vai percorrer toda a história deste poema de Miyazawa. "Aqueles que caminham pelos campos de arrozais no meio da chuva", "Aqueles que se apressam em direção ao bosque de umibouzu".



Yuugure (Shuntarou Tanikawa)
 
yuugata uchi e kaeru to
toguchi de oyaji ga shinde ita
mezurashii koto mo aru mono da to omotte
oyaji wo mataide naka e hairu to
daidokoro de ofukuro ga shinde ita
GASURENJI no hi ga tsukeppanashi datta kara
hi wo keshite SHICHU- no ajimi wo shita
kono choushi dewa
aniki mo shinde iru ni chigai nai
annojou furoba de aniki wa shinde ita
tonari no kodomo ga usonaki wo shite iru
sobaya no BAIKU no BURE-KI ga kishimu
itsumo to kawaranu yuugure dearu
ashita ga nan no yaku ni mo tatanu you na


TRADUÇÃO

Crepúsculo

ao anoitecer, quando voltei à casa
na entrada estava meu pai morto
ao pensar que aquilo fosse algo inédito,
atravessando meu pai, e entrando na casa
na cozinha estava minha mãe morta
devido ao fogo do fogão ter ficado aceso
desligando o fogo, provei o cozido
nessas circunstâncias,
sem dúvida meu irmão mais velho também estaria morto
como se esperava, no ofuro estava meu irmão morto
as crianças do lado fingiam estar chorando
o freio da bicicleta da loja de massas range
é o mesmo crepúsculo imutável de sempre
como o amanhã que para nada servirá


ANÁLISE

Neste poema de Shuntarou Tanikawa, encontra-se o hipérbato na estrutura original japonesa nos dois últimos versos: "itsumo to kawaranu yuugure dearu" e "ashita ga nan no yaku nimo tatanu you na". Essa inversão da ordem das palavras no verso, separando termos que deveriam estar ligados sintaticamente, é feita para destacar a expressão para sugerir a beleza desta formulação.

"É sempre o mesmo imutável crepúsculo de sempre, como o amanhã que para nada servirá". Ele compara o imutável crepúsculo com a futilidade do amanhã. O "eu enunciador" vê tudo morto, vê desesperança e imutabilidade de qualquer condição que possa vir a existir. Nada mudará. O seu crepúsculo é sempre o mesmo.

Tsukareta Kokoro (Hayashi Fumiko)

sono yoru ――
KAFE- no TE-BURU no ue ni
moribana no yau na kao ga naita
nan no sono
ki no ue ni KARASU ga nakautote

yoru wa tsurai ――
ryoute ni morareta
watashi no kao wa
midoriiro no oshiroi ni tsukare
juuniji no hari wo hippatte ita


TRADUÇÃO

Coração cansado

Naquela noite ――
Em cima da mesa da cafeteria
Um rosto como flores arranjadas chorava
Mas que coisa
Em cima da árvore um corvo cantava

A noite é árdua ――
Meu rosto
arranjado em ambas as minhas mãos
cansa do pó de arroz de cor verde
esticando o ponteiro das doze horas


ANÁLISE

Neste poema de Hayashi Fumiko, há uma predominância que envolve a maioria de seus trabalhos: temas sobre as mulheres, sua liberdade, seus atos como seres de igual valia aos homens e principalmente seus relacionamentos complicados. Sempre a mulher em foco.

Vemos um "eu lírico" que enuncia a sua dor, o seu "coração cansado". A enunciação começa de uma forma mórbida, quase ultra-romântica se visualizarmos os artifícies deste gênero literário que abordam temas como a solidão, a escuridão("naquela noite") e amores impossíveis.

A noite é a grande algoz talvez. Com a noite como testemunha, em algum lugar da casa (provavelmente) há um café em cima da mesa, e o rosto como (parecido) um arranjo floral chora, chorou... Podemos visualizar o uso de uma comparação direta, explícita com a estrutura "yau na" (como se...).

A personagem imersa neste ambiente de solidão à espera de alguém, provavelmente chora. Seu rosto é a representação do que ela sente e do que ela é no momento; um elemento em comunhão com o ambiente em que está. Uma decoração somente com brilho e "sem vida".

O tempo passa, a noite é árdua, cansada, dispõe sobre sua face suas mãos (a chorar?) e o ponteiro das 12 está a puxá-la, a prender sua atenção pela sua espera.

Nijuuoku kounen no kodoku (Shuntarou Tanikawa)

jinrui wa chiisana tama no ue de
nemuri oki soshite hataraki
tokidoki kasei ni nakama wo hoshigattari suru

kaseijin wa chiisana tama no ue de
nani wo shiteru ka boku wa shiranai
(aruiwa NERIRI shi KIRURU shi HARARA shiteiru ka)
shikashi tokidoki chikyuu ni nakama wo hoshigattari suru
sore wa mattaku tashika na koto da

banyuuinryoku towa
hikiau kodoku no chikara dearu

uchuu wa hizunde iru
soreyue minna wa motomeau

uchuu wa dondon fukurande yuku
soreyue minna wa fuan dearu

nijuuoku kounen no kodoku ni
boku wa omowazu kushami wo shita




TRADUÇÃO

A solidão de dois bilhões de anos-luz

Os homens, em cima de uma pequena esfera
Dormem, acordam e trabalham
Às vezes, desejam ter colegas em Marte

Os marcianos, em cima de uma pequena esfera
O que estariam fazendo? Eu não sei
(talvez "dormindede","acordandidi" ou "trabalhandudu")
contudo, às vezes, desejam ter colegas na Terra
Isso sem dúvida é algo certo

A gravidade universal
é a força da solidão que puxa tudo

O universo está se deformando
Por isso, tudo procura o outro

O universo está aos poucos se expandindo
Por isso, tudo está incerto

Na solidão de dois bilhões de anos-luz
Eu, sem me dar por si, espirrei




ANÁLISE

Este poema de Shuntarou Tanikawa demonstra: um tom conversacional, a imagem que se desenha é simples, não há muitas metáforas e a intenção que ele coloca é metafísica, isto é, busca ir além de uma descrição física das coisas para nos dizer algo essencial sobre a condição humana.

O próprio título do poema (A solidão de dois bilhões de anos-luz) nos dá essa impressão. Ao decorrer do poema ele demonstra a insegurança, o desconcerto do mundo em que vive parafraseando Camões (“Por isso, tudo está incerto”).

Aqui encontra-se a personificação intimamente relacionada com a alegoria que o autor tenta criar, que consiste na representação de uma idéia ou de uma abstração através de figuras concretas.


BIBLIOGRAFIA

• http://www.poetry.ne.jp/zamboa_ex/tanikawa/index.html
• http://www.aozora.gr.jp/
• http://etext.virginia.edu/japanese/


Daniel Araújo Ferreira DRE:107366474

Um comentário:

  1. Daniel, bom trabalho, muito promissor. Acho que você tem nas mãos um material que pode dar vários frutos, pois são poucas as traduções de poesia japonesa mais moderna entre nós. Espero que você prossiga traduzindo esses poemas, desses e de outros autores.
    Quanto a seu texto, porém, ele estava um tanto descuidado, com problemas de pontuação e concordância que eu tentei corrigir (espero que me perdoe a ousadia). Minha sugestão é que você se preocupe mais com esses aspectos de sua escrita, vírgulas e concordância sobretudo.
    Porém, no que concerne esse trabalho, está muito bom. Se você tiver mais traduções de poemas japoneses e/ou se estiver com vontade de traduzir mais (quem sabe até, no futuro, publicar um livro de traduções...), envie-me uma mensagem. Podemos combinar um encontro na faculdade e discutir algumas coisas bacanas.

    Abraços e boas férias.

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